domingo, 21 de março de 2021

TEXTO: COMUNICAÇÃO, DE LUÍS FERNANDO VERÍSSIM

 

É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um… um… como é mesmo o nome?

        “Posso ajudá-lo, cavalheiro?”

        “Pode. Eu quero um daqueles, daqueles…”

        “Pois não?”

        “Um… como é mesmo o nome?”

        “Sim?”

        “Pomba! Um… um… Que cabeça a minha. A palavra me escapou     por completo. É uma coisa simples, conhecidíssima.”

        “Sim senhor.”

        “O senhor vai dar risada quando souber.”

        “Sim senhor.”

        “Olha, é pontuda, certo?”

        “O quê, cavalheiro?”

        “Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um, um… Uma espécie de, como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta; a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, entende, fica fechado. E isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende?”

        “Infelizmente, cavalheiro…”

        “Ora, você sabe do que eu estou falando.”

        “Estou me esforçando, mas…”

       “Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?”

        “Se o senhor diz, cavalheiro.”

      “Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não saber o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero.”

        “Sim senhor. Pontudo numa ponta.”

        “Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem?”

        “Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la outra vez. Quem sabe o senhor desenha para nós?”

        “Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça saindo da chaminé. Sou uma negação em desenho.”

        “Sinto muito.”

        “Não precisa sentir. Sou técnico em contabilidade, estou muito bem de vida. Não sou um débil mental. Não sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso, me esqueci do nome desse raio. Mas fora isso, tudo bem. 0 desenho não me faz falta. Lido com números. Tenho algum problema com os números — mais complicados, claro. 0 oito, por exemplo. Tenho que fazer um rascunho antes. Mas não sou um débil mental, como você está pensando.”

        “Eu não estou pensando nada, cavalheiro.”

        “Chame o gerente.”

        “Não será preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo. Essa coisa que o senhor quer, é feita do quê?”

        “É de, sei lá. De metal.”

        “Muito bem. De metal. Ela se move?”

        “Bem… É mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos.

        É assim, assim, dobra aqui e encaixa na ponta, assim.”

        “Tem mais de uma peça? Já vem montado?”

        “É inteiriço. Tenho quase certeza de que é inteiriço.”

        “Francamente…”

        “Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem vindo, vem vindo, outra volta e dique, encaixa.”

        “Ah — tem dique. É elétrico.”

        “Não! Clique, que eu digo, é o barulho de encaixar.”

        “Já sei!”

        “Ótimo!”

        “O senhor quer uma antena externa de televisão.”

        “Não! Escuta aqui. Vamos tentar de novo…”

        “Tentemos por outro lado. Para o que serve?”

        “Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Você enfia a ponta pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa.”

        “Certo. Esse instrumento que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigantesco alfinete de segurança e…”

        “Mas é isso! É isso! Um alfinete de segurança!”

        “Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro!”

        “É que eu sou meio expansivo. Me vê aí um… um… como é mesmo o nome?”

 

01. A crônica "Comunicação" é uma narrativa. Quem participa da história?

02. Qual é o principal acontecimento dessa história?

03. Em que lugar estão os personagens?

04. Os fatos de uma história acontecem em um tempo. Marque com "x" a letra que melhor marca o tempo em que os fatos acontecem nessa história, na crônica "Comunicação".

a) uma sequência de vários dias.

b) a duração de uma conversa.

c) o período de um dia inteiro.​

05. Releia o início da crônica:

É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um... um... como é mesmo o nome?

Marque um X na alternativa que completa adequadamente a afirmação.

O início da crônica é contado por um narrador. Esse narrador conta o que acontece na história como se falasse:

a) com os personagens.

b) consigo mesmo.

c) com o leitor da crônica.

d) com outro narrador.

06. Em um momento da crônica, o compadre diz: “A palavra me escapou por completo”. O que isso significa?

07. Releia: “Preste atenção nas minhas mãos”. Considerando esse trecho, responda: que outro modo de expressão o comprador usou para ser entendido pelo vendedor?

08. Marque a alternativa que completa a afirmação.

Ao perceber que o comprador não consegue ser entendido, o vendedor sugere:

a) que ele desista.

b) que ele aponte na prateleira.

c) que ele mostre com as mãos.

d) que ele desenhe.

09. Copie da crônica “Comunicação” pelo menos uma pergunta que facilitou as explicações sobre o objeto desejado pelo comprador.

10. Marque a alternativa correta que se refere a cada uma das partes do texto.

Situação inicial

a) Duas pessoas se encontram na rua.

b) Um cliente entra em uma loja.

c) Um vendedor discute com um comprador.

Complicação

a) O comprador que comprar algo que a loja não tem.

b) O vendedor não dá atenção ao comprador.

c) O comprador não consegue comunicar o que quer comprar.

Clímax

a) O vendedor perde a paciência.

b) O comprador resolve chamar o gerente.

c) O comprador não sabe desenhar.

Desfecho

a) O vendedor fala a palavra e faz o comprador lembrar-se.

b) O comprador lembra-se da palavra e diz ao vendedor.

c) O comprador e o vendedor não se entendem.

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