segunda-feira, 8 de novembro de 2021

COMPREENSÃO TEXTUAL - TEXTO: O PADEIRO, DE RUBEM BRAGA

CRÔNICA: O PADEIRO, DE RUBEM BRAGA

Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento – mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é o lockout, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo. 

Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:

- Não é ninguém, é o padeiro!

- Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?

“Então você não é ninguém?”

Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era: e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém...

Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina – e muitas vezes saía levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.

Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!”.

E assobiava pelas escadas.

ATIVIDADE

VOCABULÁRIO

01. Relacione.

(1) humildade

(2) mágoa

(3) exemplares

(4) julgava

(5) crônica ou artigo

 

(__) Comprei dois números do Jornal do Brasil.

(__) Não gosto de guardar amargura em meu coração.

(__) José se considerava o tal! 

(__) Gostei do texto que você escreveu, publicado na edição de domingo no jornal. 

(__) A modéstia de Roberto impressionou a todos.

TROCANDO IDEIAS ORALMENTE

01. As pessoas devem ser valorizadas, independentemente da atividade ou profissão que exercem?

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02. Você acha que existe trabalho mais importante e trabalho menos importante?

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03. Pense em tudo o que você utiliza no seu dia-a-dia e que não é feito nem produzido por você. Agora comente o valor do trabalho de cada uma dessas pessoas anônimas, que indiretamente contribuem para o seu conforto e bem-estar.

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COMPREENSÃO DO TEXTO

01. O que o padeiro fazia quando deixava o pão à porta do apartamento, para não incomodar os moradores?

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02. De acordo com o texto, “não é ninguém” significa que aquela pessoa

(__) não existe.

(__) cumpre uma rotina diária e não é necessário abrir a porta para ela.

(__) não é importante para o morador do apartamento.

03. Por que o escritor se achava importante quando levava o jornal bem cedo para casa?

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04. Escreva com suas palavras qual foi a lição que o escritor aprendeu com o padeiro.

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05. O cronista diz que sua profissão tem semelhanças com a de padeiro. Quais são elas?

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06. Segundo o texto, o padeiro gostava de sua profissão? Como você chegou a essa conclusão?

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07. Para você, o padeiro é “ninguém”? Explique.

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 08. O que significa as palavras abluções e lockout?

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 09. O que seria a “greve do pão dormido”?

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10. Que situações enfrentadas pelo padeiro o levavam a crer que de fato ele não era ninguém?

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 11. Em que foco narrativo o texto foi escrito?

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