Meio
século da imigração japonesa
Por Redação, 01:30 / 17 de
Maio de 2008
Quinze anos depois da
Segunda Guerra Mundial, no dia 16 de maio de 1960, um grupo de japoneses
desembarcou na estação da cidade de Guaiúba - Ceará. Eram os primeiros
nipônicos que chegavam ao Estado
Mesmo 50 anos após o
início da migração japonesa ao país, isso chamou muita atenção dos moradores da
cidade. O grupo chegou a tal estação após longa viagem: partiu do Japão, Porto
de Kobe, no dia 30 de março do mesmo ano, no navio que se chamava “Santos-maru”
e aí passou 43 dias até chegar ao porto de Recife, Pernambuco. Após uma noite
de descanso em Recife, o grupo embarcou em um trem com destino a Guaiúba, onde
chegou após 24 horas de viagem.
Tratava-se de um grupo de
imigrantes japoneses que foram direcionados diretamente do Japão para uma
fazenda chamada “São Jerônimo”, localizada no município de Guaiúba; que logo
após passa a ser chamada de Colônia Pio XII, onde Instituto Nacional Imigração
e Colonização -Inic, órgão do governo brasileiro responsável pelo translado e
assentamento dos japoneses em terras brasileiras, comprou terreno para o projeto
de imigração agrícola.
O grupo era composto de
nove famílias oriundas da província de Nagano e uma família da província de
Kagoshima, no total, 43 pessoas em nove famílias. Através do pedido do Inic
feito à Associação Geral de Cooperação Internacional (nome anterior da Japan
internacional Cooporation Agency - Jica) do Rio de Janeiro, a associação
solicitou um projeto para que pudessem ser enviados agricultores japoneses ao
Ceará, e as sedes desta associação situadas nas províncias no Japão divulgaram
este projeto aos japoneses. Então, os membros deste grupo foram selecionados
através desta convocação.
Os resultados esperados
pelas instituições relacionadas à agricultura, tanto do governo brasileiro como
do estado do Ceará, eram os seguintes: primeiramente, cultivar verduras e
frutas e fornecê-los ao mercado de Fortaleza e, em seguida, difundir as
técnicas agrícolas para moradores de tal localidade, resultados estes
alcançados através de muito esforço e responsabilidade.
Prova disso é que um tipo
de melão, popularmente conhecido como “melão japonês” foi estabelecido no
mercado de Fortaleza, assim como a melancia também que, mesmo não carregando o
título de “japonesa” como o melão, pode ser encontrada com grande facilidade e
apresentando boa qualidade. Além disso, ainda existem agricultores em Guaiúba
que continuam cultivando essas frutas de qualidade.
Quem deu o maior apoio
para este projeto foi um senhor japonês cujo nome é Shinzo Ohama, atual
representante da sede central de Fortaleza da religião japonesa, igreja
Tenri-kyô. Ele já estava estabelecido no Brasil naquele momento e foi
selecionado como coordenador de tal colônia pela atual Jica (Japan
International Cooperation Agency). Ele passou dois anos e meio convivendo com imigrantes
na colônia e se dedicando ao melhoramento de qualidade dos produtos. Procurou
em São Paulo, no Japão e até nos Estados Unidos e conseguiu as sementes de
melão, melancia, pimentão, pepino e mais outras frutas e verduras de boa
qualidade, que eram difíceis de encontrar em Fortaleza. Após o experimento
cultivando a terra desta colônia, encorajou a produção de frutas e verduras que
teriam maior possibilidade de comercialização no mercado.
O resultado do esforço de
toda a colônia é que eles conseguiram enraizar o melão do tipo cantaloupe,
importado dos Estados Unidos. E até a melancia americana que circulava no
mercado naquela época, que era um tipo de melancia comprida que, segundo o Sr.
Ohama, nem podia ser chamada de melancia por haver tanta degeneração, foi sendo
substituída pela melancia cultivada pelos imigrantes, uma melancia redonda,
cujas sementes o Sr.Ohama conseguira de uma família de Bauru, em São Paulo.
Lembrando que, o pepino japonês e a abóbora japonesa também foram resultado da
dedicação desses imigrantes.
Famílias
Passou-se quase meio
século após a chegada dos imigrantes em Guaiúba. A colônia completou 48 anos no
dia 16 deste mês (ontem). A colônia, que iniciou com nove famílias, hoje é
constituída de apenas três famílias, cujos isseis (imigrantes de primeira
geração) já se encontram na terceira idade. Pensando no esforço e dedicação ao
mercado de Fortaleza desta pequena colônia, dos simples agricultores que vieram
do outro lado do mundo, e que venceram as dificuldades não apenas como agricultores
que vêm contribuindo com o desenvolvimento agrícola da região, mas também na
adaptação ao ambiente de clima tropical e à cultura, costumes e idioma bastante
diferentes da sua origem, neste momento, eles merecem uma grande homenagem com
uma palavra respeitosa “Subarashii”, que significa “esplêndido”. Não há outra
palavra que poderia substituí-la. Portanto, gostaria de nomear esses imigrantes
agradecendo ao jornal que me ofereceu este espaço. Os representantes das três
famílias de imigrantes que moram em Guaiúba atualmente são: Sr. Koichi
Fujiwara, Sr. Daisuke Tsuchiya e Sr. Motoyuki Okura.
Yuka Ito*
Especial para o Caderno 3
*A autora é japonesa e
Mestranda do Curso de Mestrado em Lingüística Aplicada da Universidade Estadual
do Ceará. Professora bolsista do curso de japonês do Núcleo de Línguas
Estrangeiras da Universidade Estadual do Ceará. (Este artigo foi elaborado
através do depoimento do Sr. Ohama.)
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