quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

OS IMIGRANTES JAPONESES E A HISTÓRIA DE GUAIUBA

Meio século da imigração japonesa

Por Redação, 01:30 / 17 de Maio de 2008

Quinze anos depois da Segunda Guerra Mundial, no dia 16 de maio de 1960, um grupo de japoneses desembarcou na estação da cidade de Guaiúba - Ceará. Eram os primeiros nipônicos que chegavam ao Estado

Mesmo 50 anos após o início da migração japonesa ao país, isso chamou muita atenção dos moradores da cidade. O grupo chegou a tal estação após longa viagem: partiu do Japão, Porto de Kobe, no dia 30 de março do mesmo ano, no navio que se chamava “Santos-maru” e aí passou 43 dias até chegar ao porto de Recife, Pernambuco. Após uma noite de descanso em Recife, o grupo embarcou em um trem com destino a Guaiúba, onde chegou após 24 horas de viagem.
Tratava-se de um grupo de imigrantes japoneses que foram direcionados diretamente do Japão para uma fazenda chamada “São Jerônimo”, localizada no município de Guaiúba; que logo após passa a ser chamada de Colônia Pio XII, onde Instituto Nacional Imigração e Colonização -Inic, órgão do governo brasileiro responsável pelo translado e assentamento dos japoneses em terras brasileiras, comprou terreno para o projeto de imigração agrícola.
O grupo era composto de nove famílias oriundas da província de Nagano e uma família da província de Kagoshima, no total, 43 pessoas em nove famílias. Através do pedido do Inic feito à Associação Geral de Cooperação Internacional (nome anterior da Japan internacional Cooporation Agency - Jica) do Rio de Janeiro, a associação solicitou um projeto para que pudessem ser enviados agricultores japoneses ao Ceará, e as sedes desta associação situadas nas províncias no Japão divulgaram este projeto aos japoneses. Então, os membros deste grupo foram selecionados através desta convocação.
Os resultados esperados pelas instituições relacionadas à agricultura, tanto do governo brasileiro como do estado do Ceará, eram os seguintes: primeiramente, cultivar verduras e frutas e fornecê-los ao mercado de Fortaleza e, em seguida, difundir as técnicas agrícolas para moradores de tal localidade, resultados estes alcançados através de muito esforço e responsabilidade.
Prova disso é que um tipo de melão, popularmente conhecido como “melão japonês” foi estabelecido no mercado de Fortaleza, assim como a melancia também que, mesmo não carregando o título de “japonesa” como o melão, pode ser encontrada com grande facilidade e apresentando boa qualidade. Além disso, ainda existem agricultores em Guaiúba que continuam cultivando essas frutas de qualidade.
Quem deu o maior apoio para este projeto foi um senhor japonês cujo nome é Shinzo Ohama, atual representante da sede central de Fortaleza da religião japonesa, igreja Tenri-kyô. Ele já estava estabelecido no Brasil naquele momento e foi selecionado como coordenador de tal colônia pela atual Jica (Japan International Cooperation Agency). Ele passou dois anos e meio convivendo com imigrantes na colônia e se dedicando ao melhoramento de qualidade dos produtos. Procurou em São Paulo, no Japão e até nos Estados Unidos e conseguiu as sementes de melão, melancia, pimentão, pepino e mais outras frutas e verduras de boa qualidade, que eram difíceis de encontrar em Fortaleza. Após o experimento cultivando a terra desta colônia, encorajou a produção de frutas e verduras que teriam maior possibilidade de comercialização no mercado.
O resultado do esforço de toda a colônia é que eles conseguiram enraizar o melão do tipo cantaloupe, importado dos Estados Unidos. E até a melancia americana que circulava no mercado naquela época, que era um tipo de melancia comprida que, segundo o Sr. Ohama, nem podia ser chamada de melancia por haver tanta degeneração, foi sendo substituída pela melancia cultivada pelos imigrantes, uma melancia redonda, cujas sementes o Sr.Ohama conseguira de uma família de Bauru, em São Paulo. Lembrando que, o pepino japonês e a abóbora japonesa também foram resultado da dedicação desses imigrantes.


Famílias

Passou-se quase meio século após a chegada dos imigrantes em Guaiúba. A colônia completou 48 anos no dia 16 deste mês (ontem). A colônia, que iniciou com nove famílias, hoje é constituída de apenas três famílias, cujos isseis (imigrantes de primeira geração) já se encontram na terceira idade. Pensando no esforço e dedicação ao mercado de Fortaleza desta pequena colônia, dos simples agricultores que vieram do outro lado do mundo, e que venceram as dificuldades não apenas como agricultores que vêm contribuindo com o desenvolvimento agrícola da região, mas também na adaptação ao ambiente de clima tropical e à cultura, costumes e idioma bastante diferentes da sua origem, neste momento, eles merecem uma grande homenagem com uma palavra respeitosa “Subarashii”, que significa “esplêndido”. Não há outra palavra que poderia substituí-la. Portanto, gostaria de nomear esses imigrantes agradecendo ao jornal que me ofereceu este espaço. Os representantes das três famílias de imigrantes que moram em Guaiúba atualmente são: Sr. Koichi Fujiwara, Sr. Daisuke Tsuchiya e Sr. Motoyuki Okura.

Yuka Ito*
Especial para o Caderno 3

*A autora é japonesa e Mestranda do Curso de Mestrado em Lingüística Aplicada da Universidade Estadual do Ceará. Professora bolsista do curso de japonês do Núcleo de Línguas Estrangeiras da Universidade Estadual do Ceará. (Este artigo foi elaborado através do depoimento do Sr. Ohama.)

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