PROJETO EU, CONTADOR DE ESTÓRIAS
TEXTO LIDO PARA OS ALUNOS NA 2ª SEMANA DO MÊS DE ABRIL
TEXTO: A MOURA TORTA, CONTO POPULAR
Era
uma vez um rei que tinha um filho único, e este, chegando a ser rapaz, pediu
para correr mundo. Não houve outro remédio senão deixar o príncipe seguir
viagem como desejava.
Nos
primeiros tempos nada aconteceu de novidades. O príncipe andou, andou, dormindo
aqui e acolá, passando fome e frio. Numa tarde ia ele chegando a uma cidade
quando uma velhinha, muito corcunda, carregando um feixe de gravetos, pediu uma
esmola. O príncipe, com pena da velhinha, deu dinheiro bastante e colocou nos
ombros o feixe de gravetos, levando a carga até pertinho das ruas. A velha
agradeceu muito, abençoou e disse:
–
Meu netinho, não tenho nada para lhe dar; leve essas frutas para regalo mas só
abra perto das águas correntes. Tirou do alforje sujo três laranjas e entregou
ao príncipe, que as guardou e continuou sua jornada.
Dias
depois, na hora do meio-dia, estava morto de sede e lembrou-se das laranjas.
Tirou
uma, abriu o canivete e cortou. Imediatamente a casca abriu para um lado e
outro e pulou de dentro uma moça bonita como os anjos, dizendo:
–
Quero água! Quero água!
Não
havia água por ali e a moça desapareceu. O príncipe ficou triste com o caso.
Dias
passados sucedeu o mesmo. Estava com sede e cortou a segunda laranja. Outra
moça, ainda mais bonita, apareceu, pedindo água pelo amor de Deus.
O
príncipe não pôde arranjar nem uma gota. A moça sumiu-se como uma fumaça,
deixando-o muito contrariado.
Noutra
ocasião o príncipe tornou a ter muita sede. Estava já voltando para o palácio
de seu pai. Lembrou-se do sucedido com as duas moças e andou até um rio
corrente.
Parou
e descascou a última laranja que a velha lhe dera. A terceira moça era bonita
de fazer raiva. Muito e muito mais bonita que as duas outras. Foi logo pedindo
água e o príncipe mais que depressa lhe deu. A moça bebeu e desencantou,
começando a conversar com o rapaz e contando a história. Ficaram namorados um
do outro. A moça estava quase nua e o príncipe viajava a pé, não podendo levar
sua noiva naqueles trajes. Mandou subir para uma árvore, na beira do rio,
despediu-se dela e correu para casa.
Nesse
momento chegou uma escrava negra, cega de um olho, a quem chamavam a Moura
Torta. A negra baixou-se para encher o pote com água do rio mas avistou o rosto
da moça que se retratava nas águas e pensou que fosse o dela. Ficou assombrada
de tanta formosura.
–
Meu Deus! Eu tão bonita e carregando água? Não é possível… Atirou o pote nas
pedras, quebrando-o e voltou para o palácio, cantando de alegria. Quando a
viram voltar sem água e toda importante, deram muita vaia na Moura Torta,
brigaram com ela e mandaram que fosse buscar água, com outro pote.
Lá
voltou a negra, com o pote na cabeça, sucumbida. Meteu o pote no rio e viu o
rosto da moça que estava na árvore, mesmo por cima da correnteza. Novamente a
escrava preta ficou convencida da própria beleza. Sacudiu o pote bem longe e
regressou para o palácio, toda cheia de si.
Quase
a matam de vaias e de puxões. Deram o terceiro pote e ameaçaram a negra de uma
surra de chibata se ela chegasse sem o pote cheio d’água. Lá veio a Moura Torta
no destino. Mergulhou o pote no rio e tornou a ver a face da moça. Esta, não
podendo conter-se com a vaidade da negra, desatou uma boa gargalhada. A escrava
levantou a cabeça e viu a causadora de toda sua complicação.
–
Ah! É vossimicê, minha moça branca? Que está fazendo aí, feito passarinho?
Desça para conversar comigo.
A
moça, de boba, desceu, e a Moura Torta pediu para pentear o cabelo dela, um
cabelão louro e muito comprido que era um primor. A moça deixou. A Moura Torta
deitou a cabeça no seu colo e começou a catar, dando cafuné e desembaraçando as
tranças.
Assim
que a viu muito entretida, fechando os olhos, tirou um alfinete encantado e
fincou-o na cabeça da moça. Esta deu um grito e virou-se numa rolinha, saindo a
voar.
A
negra trepou-se na mesma árvore e ficou esperando o príncipe, como a moça lhe
tinha dito, de boba.
Finalmente
o príncipe chegou, numa carruagem dourada, com os criados e criadas trazendo
roupa para vestir a noiva. Encontrou a Moura Torta, feia como a miséria. O príncipe,
assim que a viu, ficou admirado e perguntou a razão de tanta mudança. A Moura Torta
disse:
– O
sol queimou minha pele e os espinhos furaram meu olho. Vamos esperar que o
tempo melhore e eu fique como era antes.
O
príncipe acreditou e lá se foi a Moura Torta de carruagem dourada, feito gente.
O
rei e a rainha ficaram de caldo vendo uma nora tão horrenda como a negra. Mas
palavra de rei não volta atrás e o prometido seria cumprido. O príncipe
anunciou seu casamento e mandou convite aos amigos.
A Moura
Torta não acreditava nos olhos. Vivia toda coberta de seda e perfumada, dando
ordens e ainda mais feia do que carregando o pote d’água. Todos antipatizavam com
a futura princesa.
Todas
as tardes o príncipe vinha espairecer no jardim e notava que uma rolinha voava
sempre ao redor dele, piando triste de fazer pena. Aquilo sucedeu tantas vezes que
o príncipe acabou ficando impressionado. Mandou um criado armar um laço num galho
e a rolinha ficou presa. O criado levou a rolinha ao príncipe e este a segurou
com delicadeza, alisando as peninhas. Depois coçou a cabecinha da avezinha e
encontrou um caroço duro. Puxou e saiu um alfinete fino. Imediatamente a moça
desencantou-se e apareceu bonita como os amores.
O
príncipe ficou sabendo da malvadeza da negra escrava. Mandou prender Moura Torta
e contou a todo o mundo a perversidade dela, condenando-a a morrer queimada e as
cinzas serem atiradas ao vento.
Fizeram
uma fogueira bem grande e sacudiram a Moura Torta dentro, até que ficou
reduzida a poeira.
A
moça casou com o príncipe e viveram como Deus com seus anjos, querida por todos.
Entrou por uma perna de pinto e saiu por uma de pato, mandou dizer El-Rei Meu Senhor
que me contassem quatro…
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