AUTORA: SÔNIA JUNQUEIRA
BROTOU do chão a poesia
Na forma de uma plantinha
Espigada, perfumosa,
Se abrindo toda pra mim:
Mensageiro da alegria,
Era um pé de alecrim
Que dourou a minha vida...
PASSOU por mim a poesia
Na forma de uma gatinha
Amarela, tão macia!,
Uma bola peludinha
Que chegou bem de mansinho...
Batizei-a de Chiquinha,
Fiquei com ela pra mim.
ENTROU em mim a poesia
Na forma de uma canção
Que falava de uma rua
Com pedrinhas de brilhantes
E de um anjo solitário
Que vivia por ali
E roubou um coração
Gritou no mato a poesia
Quando caiu a noitinha:
Era um concerto de grilos,
Tantos astros em seresta,
Pois era dia de festa,
E dentro da boca da noite
Cantaram um coro sem fim...
BRILHOU pra mim a poesia
Na forma de lua cheia
E de um céu estrelado
Despencando no telhado
De zinco do avarandado,
Pronto para ser pisado
Por alguém bem distraído...
CRESCEU em mim a poesia
Na forma de uma tristeza,
Um chorinho derramado
No silêncio da varanda.
Veio vindo, foi chegando
- carregada pelo vento? –
E tomou conta de mim.
CAIU do céu a poesia
Na forma de uma chuvinha,
Pingos grossos, cheiro doce,
Que molhou as redondezas,
Encharcou os meus cabelos,
Inundou a minha vida
E levou minha tristeza.
SORRIU pra mim a poesia
Na forma de um amigo
- mão estendida, carinho,
E estar juntos, quietinhos
Ou ouvindo, ou contando,
Ou rindo e barulhando... –
E abraçou minha vida.
ME ARREBATOU a poesia
Trazida pelas palavras
Abrigadas entre as páginas
Do livro que alguém lia
E que deixou por ali:
Mundo entrando pelos olhos,
Enriqueceu minha vida.
AGORA, sempre que quero
Saber cadê a poesia,
Dou um pulo na varanda,
Me debruço – e espero:
Quem sabe se de repente
Ela volta e, simplesmente,
Vem contar por onde anda...
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