sábado, 29 de outubro de 2016

ESCOLA _________________________________________________________________
DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA
DATA: ____/____/____          SÉRIE: _____
LEITURA E COMPREENSÃO TEXTUAL
ALUNO(A): _______________________________________________________________


LER
O morador de um apartamento fazia um pouco de barulho à noite. Um de seus vizinhos reclamou. O morador, então, em vez de discutir e brigar, como muitas vezes as pessoas fazem nesses casos, escreveu a esse vizinho um interessante recado.

Recado ao senhor 903

Vizinho,

Quem fala aqui é o homem do 1.003. Recebi outro dia, consternado (1), a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal -- devia ser meia-noite -- e a sua veemente (2) reclamação verbal (3). Devo dizer que estou desolado (4) com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1.003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1.003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1.003, me limito a leste pelo 1.005, a oeste pelo 1.001, ao sul pelo Oceano Atlântico, ao norte pelo 1.004, ao alto pelo 1.103 e embaixo pelo 903 -- que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos (5) ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7, pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas -- e prometo silêncio.
...Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: "Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou". E o outro respondesse: "Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela".
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando (6) canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

(Rubem Braga. *200 crônicas escolhidas*. Rio de Janeiro, Record, 1992.)

SOBRE O AUTOR
Rubem Braga nasceu em 1913 em Cachoeiro do Itapemirim (Espírito Santo) e faleceu no Rio de Janeiro em 1990. Suas crônicas, que podem ser consideradas verdadeiras "poesias", propõem mais autenticidade e afeição nas relações humanas e revelam um profundo amor à vida simples, às pessoas humildes e à natureza.


A PALAVRA NO TEXTO
1. consternado: muito triste; de ânimo abatido
2. veemente: enérgico; vigoroso; intenso
3. verbal: oral; falado
4. desolado: muito triste; inconsolável
5. bramir: fazer grande barulho; estrondear
6. entoar: cantar

ESTUDO DO TEXTO
01. É válido afirmar que o título do texto causa ao leitor um certo estranhamento? Justifique.

02. Pelas primeiras palavras do texto, pode-se perceber como é o relacionamento entre o cronista e o vizinho a quem ele enviou a carta. Caracterize esse relacionamento, justificando sua resposta.

03.  Como o cronista está se sentindo em relação ao fato de ter incomodado o vizinho e de este ter-lhe feito uma reclamação? Transcreva do texto os dois adjetivos que confirmam sua resposta.

04. O autor da carta tem consciência de que o vizinho poderia tomar medidas enérgicas para resolver o problema.
a) Quais seriam essas medidas?

b) Ao fazer referência a essas medidas, o cronista está valorizando ou ironizando o modo como as pessoas se relacionam? Justifique.

05. Ao se referir aos moradores usando números e não nomes, o que o cronista está criticando?

06.  Se classificássemos os moradores do prédio em "oceano" ou "lago", quem faria parte do primeiro grupo? E do segundo? Justifique.

07.  Releia.
"Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7, pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305."

a) A que o cronista está se referindo com os números em destaque?


b) Qual desses números exprime, nesse contexto, uma crítica irônica? Por quê?


08. O cronista não concorda com a frieza das relações humanas e com os "regulamentos sociais"; por isso, sonha com uma vida diferente.
a) Como seria essa outra maneira de viver?

b) Por que, segundo o narrador, seria importante viver como ele sonha?

09. A sua vida cotidiana assemelha-se mais à vida sonhada pelo cronista ou àquela que ele critica e ironiza? Explique sua resposta.

A LINGUAGEM DO TEXTO
01. Releia.
"[...] ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros."
a) Qual é a palavra primitiva de empilhados? ______________________________

b) Indique que palavra substituiria empilhados se o cronista quisesse dizer que ele e o vizinho estavam:
 • numa jaula ___________________________
 • num cárcere ___________________________
 • entre paredes ___________________________
 • numa prisão ___________________________

c) A palavra empilhados e as que você empregou em b seguem o mesmo processo de formação? Justifique.


02.  Releia este trecho do texto.
"[...] é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1.003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1.003 se agita [...]"
Explique por que as palavras em destaque são casos de derivação imprópria.


03. Considere as palavras destacadas nos enunciados abaixo.
1. "O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia."
2. Mora no prédio há seis meses e ainda não conhece os vizinhos.
3. "Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante [...]"
4. Ele não dá a menor importância à família. Depois, é um irresponsável.

a) Em que frases essas palavras indicam tempo?


b) Que expressão poderia substituir essas palavras nas outras duas frases?

04. Compare.
1. "[...] apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído [...]"
2. Eu e o Oceano Atlântico fazemos apenas algum ruído [...].
Explique a diferença de sentido entre esses dois trechos.


05. Compare.
1. Recebi outro dia, tomado por um sentimento de profunda tristeza e abatimento, a visita do zelador [...].
2. "Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador [...]"
Agora, de acordo com esse exemplo, reescreva as frases, substituindo o trecho em destaque por um dos seguintes adjetivos:
exultante - submisso - arrogante - frustrado – sarcástico

a) O síndico do prédio declarou, tomado por um sentimento de superioridade e desprezo, que me expulsa do prédio.  
b) O morador, tomado por um sentimento de decepção por não ter conseguido o que queria, mudou-se para um sítio. 
c) O funcionário executava, tomado por um sentimento de inferioridade e obediência, as ordens mais absurdas. 
d) Tomada por uma imensa e incontida alegria, a ganhadora do prêmio saiu gritando pelas ruas. 
e) O vizinho, numa atitude de desrespeito e zombaria, começou a ridicularizar o morador do 1.003. 

06. De acordo com o exemplo, reescreva as frases, transformando o termo destacado em uma oração equivalente.
• O zelador comunicou a reclamação de um vizinho. →  1 oração
• O zelador comunicou que um vizinho reclamara. → 2 orações

a) Os moradores reclamaram do barulho do vizinho.


b) Queremos sua opinião sobre o assunto.


c) Seria necessário o empenho de todos na solução do conflito.


d) O síndico exigiu a presença dos moradores à reunião.



ESCREVER

ATIVIDADE 1
Os prédios de apartamentos dispõem de um regulamento interno, cuja finalidade é orientar os moradores e visitantes sobre o que é permitido, ou não, fazer no edifício.
O cronista do texto Recado ao senhor 903 sonha viver em um lugar em que as pessoas celebrem a amizade, a alegria, o dom da vida, o amor e a paz.
Reúna-se com um(a) colega e, imaginando que esse lugar já exista, criem para ele um regulamento interno, a partir das seguintes orientações:

• Dar um nome adequado ao modo de vida de seus moradores.
• Dar um título: Regulamento interno do (pôr o nome).
• Fazer o regulamento com, no mínimo, dez artigos (itens). Alguns deles deverão começar por "É permitido..." (ex.: É permitido cantar a qualquer hora do dia ou da noite); outros por "É proibido..." (ex.: É proibido cultivar o egoísmo e a falsidade.); outros ainda por "Recomenda-se..." (ex.: Recomenda-se aos moradores que regularmente contemplem as noites de lua cheia e a beleza do céu).

ATIVIDADE 2
Chama-se carta circular o tipo de comunicação em que o emissor (pessoa que envia a carta) utiliza várias cópias de um mesmo texto para se comunicar com diversos destinatários.
A redação de uma circular obedece basicamente às seguintes orientações:
• O texto deve ser de pequena extensão e escrito numa linguagem objetiva e simples.
• A partir do texto original, redigido pelo emissor, são feitas as cópias (impressas ou fotocopiadas) a serem enviadas aos destinatários.
• O texto não deve conter o nome do destinatário, já que será enviado a diferentes pessoas. Geralmente, emprega-se um vocativo genérico, que se aplica a todos os destinatários (Caro morador, Senhor morador, Prezado cliente etc.).
• A data é colocada no alto da página e, um pouco abaixo dela, o vocativo genérico.
• No final do texto aparecem a assinatura, o nome e o cargo (ou função) do emissor.
Imagine agora que você seja o síndico do prédio em que aconteceram os fatos narrados no texto Recado ao senhor 903.
Baseando-se nas orientações acima, escreva uma circular aos moradores, convidando-os para uma reunião em que serão discutidos alguns assuntos de interesse de todos os condôminos. No texto, você deverá explicitar esses assuntos.
  
GABARITO
ESTUDO DO TEXTO
01. É válido afirmar que o título do texto causa ao leitor um certo estranhamento? Justifique.
R: Sim. A pessoa a quem se destina o recado é caracterizada por um número, e não por um nome, como geralmente costuma acontecer.

02. Pelas primeiras palavras do texto, pode-se perceber como é o relacionamento entre o cronista e o vizinho a quem ele enviou a carta. Caracterize esse relacionamento, justificando sua resposta.
R: O relacionamento é frio e impessoal. Eles não são identificados pelos nomes: o autor da carta é apenas o “homem do 1.003” e o vizinho é chamado de “vizinho”.

03.  Como o cronista está se sentindo em relação ao fato de ter incomodado o vizinho e de este ter-lhe feito uma reclamação? Transcreva do texto os dois adjetivos que confirmam sua resposta.
R: Ele se sente muito chateado, decepcionado e triste. Os adjetivos que deiam claro esse sentimento são “consternado” e “desolado”.

04. O autor da carta tem consciência de que o vizinho poderia tomar medidas enérgicas para resolver o problema.
a) Quais seriam essas medidas?
R: O vizinho poderia pedir a presença da polícia e a aplicação da lei.

b) Ao fazer referência a essas medidas, o cronista está valorizando ou ironizando o modo como as pessoas se relacionam? Justifique.
R: Ele está ironizando. Fica subentendido que elas não são humanas o bastante para dialogar e resolver pacificamente suas divergências.

05. Ao se referir aos moradores usando números e não nomes, o que o cronista está criticando?
R: O cronista critica, de forma irônica, a frieza do relacionamento entre os moradores do prédio e, por extensão, a frieza do relacionamento entre as pessoas em geral.

06.  Se classificássemos os moradores do prédio em "oceano" ou "lago", quem faria parte do primeiro grupo? E do segundo? Justifique.
R: Só o cronista seria “oceano”, porque é o único que faz algum ruído (tem vida) fora dos “horários civis”. Os demais moradores seriam “lago”, pois são quietos, comportados, silenciosos.

07.  Releia.
"Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7, pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305."
a) A que o cronista está se referindo com os números em destaque?
R: 903 é o número do apartamento do vizinho que fez a reclamação; 783 refere-se ao prédio em que eles moram; 109 designa o ônibus que o vizinho toma para trabalhar; 527 refere-se ao prédio em que o vizinho trabalha.

b) Qual desses números exprime, nesse contexto, uma crítica irônica? Por quê?
R: Trata-se do 903. O vizinho não tem nome, não tem identidade como pessoa: ele é apenas um número, como as outras coisas referidas no trecho (o ônibus, o prédio, a sala).

08. O cronista não concorda com a frieza das relações humanas e com os "regulamentos sociais"; por isso, sonha com uma vida diferente.
a) Como seria essa outra maneira de viver?
R: Seria uma vida que valorizaria as relações de amizade. Haveria mais festas, mais alegria e fraternidade entre as pessoas.

b) Por que, segundo o narrador, seria importante viver como ele sonha?
R: Porque ele tem consciência de que a vida é bela, emocionante, mas é passageira: “a vida é curta e a lua é bela”.

09. A sua vida cotidiana assemelha-se mais à vida sonhada pelo cronista ou àquela que ele critica e ironiza? Explique sua resposta.
R: Resposta Pessoal.

A LINGUAGEM DO TEXTO
01. Releia.
"[...] ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros."
a) Qual é a palavra primitiva de empilhados? R: pilha.

b) Indique que palavra substituiria empilhados se o cronista quisesse dizer que ele e o vizinho estavam:
 • numa jaula - enjaulados
 • num cárcere - encarcerados
 • entre paredes - emparedados
 • numa prisão - aprisionados

c) A palavra empilhados e as que você empregou em b seguem o mesmo processo de formação? Justifique.
R: Sim, todas se formaram por parassíntese (prefixo + palavra primitiva + sufixo).

02.  Releia este trecho do texto.
"[...] é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1.003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1.003 se agita [...]"
Explique por que as palavras em destaque são casos de derivação imprópria.
R: Porque elas mudam de classe gramatical: passaram de numeral a substantivo, sem alterar a forma.

03. Considere as palavras destacadas nos enunciados abaixo.
1. "O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia."
2. Mora no prédio há seis meses e ainda não conhece os vizinhos.
3. "Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante [...]"
4. Ele não dá a menor importância à família. Depois, é um irresponsável.

a) Em que frases essas palavras indicam tempo?
R: Em 2 e 3.

b) Que expressão poderia substituir essas palavras nas outras duas frases?
R: Em 1 e 4, “ainda” e “depois” podem ser trocadas por “além disso”.

04. Compare.
1. "[...] apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído [...]"
2. Eu e o Oceano Atlântico fazemos apenas algum ruído [...].
Explique a diferença de sentido entre esses dois trechos.
R: Em 1, os únicos que fazem ruído são o cronista e o Oceano Atlântico; mais ninguém faz. Em 2, a única coisa que os dois fazem é algum ruído, mais nada.

05. Compare.
1. Recebi outro dia, tomado por um sentimento de profunda tristeza e abatimento, a visita do zelador [...].
2. "Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador [...]"
Agora, de acordo com esse exemplo, reescreva as frases, substituindo o trecho em destaque por um dos seguintes adjetivos:
exultante - submisso - arrogante - frustrado – sarcástico

a) O síndico do prédio declarou, tomado por um sentimento de superioridade e desprezo, que me expulsa do prédio.  R: arrogante
b) O morador, tomado por um sentimento de decepção por não ter conseguido o que queria, mudou-se para um sítio. R: frustrado
c) O funcionário executava, tomado por um sentimento de inferioridade e obediência, as ordens mais absurdas. R: submisso
d) Tomada por uma imensa e incontida alegria, a ganhadora do prêmio saiu gritando pelas ruas. R: exultante
e) O vizinho, numa atitude de desrespeito e zombaria, começou a ridicularizar o morador do 1.003. R: sarcástico

06. De acordo com o exemplo, reescreva as frases, transformando o termo destacado em uma oração equivalente.
• O zelador comunicou a reclamação de um vizinho. →  1 oração
• O zelador comunicou que um vizinho reclamara. → 2 orações

a) Os moradores reclamaram do barulho do vizinho.
R: Os moradores reclamaram que o vizinho fazia barulho (ou: que o vizinho é/era barulhento).

b) Queremos sua opinião sobre o assunto.
R: Queremos que você opine sobre o assunto (ou: que você dê sua opinião sobre o assunto).

c) Seria necessário o empenho de todos na solução do conflito.
R: Seria necessário que todos se empenhassem na solução do conflito.

d) O síndico exigiu a presença dos moradores à reunião.
R: O síndico exigiu que os moradores estivessem presentes a reunião.




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